A notícia não é nova, mas não houve oportunidade de a divulgar aqui antes. Estamos muito felizes por ter ganho o primeiro prémio para a categoria "Melhor Projecto em BD" na 6ª edição dos Troféus Central Comics. Este site de informação, loja, fórum, etc., que já há largos anos se vai desdobrando em várias dimensões, colocou o Verbd na companhia de muitos outros excelentes projectos em torno da reflexão sobre a banda desenhada, como o Dicionário Universal de Banda Desenhada, do historiador (e participante no documentário) Leonardo De Sá, as acções expositivas independentes da 1ª Guerrilha Laica e o Projecto Comboio Fantasma, o Festival P/Artes Faro 2007 e ainda um dos números da Revista Cais, que contou com a participação e coordenação dos professores e colaboradores do curso de banda desenhada e ilustração do Ar.Co (entre os quais o Pedro Moura). Os votantes foram os frequentadores do site e coube-nos a nós arrecadar o prémio, aqui retratado.
O nosso sincero agradecimento aos vontantes, à Central Comics, mas também aos restantes participantes, cuja qualidade é assegurada.
Esperemos ter merecido de facto este prémio e que seja ele um projecto que tenha a possibilidade de se vir a desdobrar no futuro, pelas nossas mãos ou de outros participantes...
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Teaser Verbd DVD
Estando na fase de pré-produção do DVD do programa (apesar de alguns obstáculos ainda a ultrapassar), ficam aqui com um link para mais um trailer "explicativo" do VERBD, que repesca partes dos episódios num acelarado panorama...
Até breve!
Nota: não se esqueçam de carregar a versão "high quality".
Até breve!
Nota: não se esqueçam de carregar a versão "high quality".
domingo, 2 de setembro de 2007
Uma resposta pessoal.
A propósito de um post no blog de Geraldes Lino sobre o programa, e ainda pela notícia de João Miguel Lameiras no Diário das Beiras, venho por este meio tentar dar algumas respostas às questões levantadas nesses dois textos, e comentários apensos.
Fico grato de o programa ter levado a algum grau de discussão, e num espaço gerido por alguém que muito prezo e que sei ser um nome importante no panorama da banda desenhada portuguesa, como o Geraldes Lino, que conto entre as amizades no “meio”. Acrescente-se a isso os pontos inteligentemente apontados por João Miguel Lameiras. Gostava de ter a oportunidade de tentar responder a alguns dos pontos apresentados, se bem que não possa ser exaustivo em todos eles.
O que primeiro gostava de deixar claro é que assumo totalmente as responsabilidades que me cabem em relação ao programa VERBD, que partilho de modo igual com o Paulo Seabra. A equipa de produção e as decisões estilísticas e intelectuais que pautaram o programa pertencem-nos completa e exclusivamente (ainda que se deva esclarecer o apoio quer da parte da produtora Black Maria e da própria RTP, naturalmente), assim como as suas limitações, erros ou falhas que os espectadores considerem existir. Todavia, sendo um programa de televisão, produzido para um canal público, para um formato muito específico (cinco programas de 25 minutos cada), a estruturação da potencialidade foi feita no interior de um pequeno espartilho: esse espartilho jamais se tornou fonte de restrições ou constrangimentos, mas simplesmente o espaço no qual poderíamos exercer a nossa total liberdade, que afirmo ter sido cumprida.
Em segundo lugar, como várias vezes deixei claro e foi mesmo afirmado no programa, no blog e noutros espaços, o VERBD nunca almejou tornar-se um programa exaustivo sobre a banda desenhada portuguesa. Tratava-se tão-somente de criar um panorama, sobretudo da contemporaneidade da banda desenhada portuguesa, e para a criação desse panorama criou-se um prisma que serviria de ponto de partida para a emergência do discurso pretendido. Esse prisma consolidar-se-ia pelos autores. Não poderíamos, nunca, falar de todos. Uma escolha era, portanto, imperativa. Como os escolher? Como fazer uma escolha que – não esgotando nada, não se querendo tornar holística ou última - se pudesse considerar, mesmo que por este ou aquele sector, pertinente para se falar da banda desenhada contemporânea portuguesa?
Há duas respostas que devo avançar neste momento, e que não têm ordem de importância. Em primeiro lugar, Geraldes Lino sabe como poucos que, pessoalmente, conheço muitos autores de banda desenhada, de vários “sectores” (como muitas pessoas querem ver e entender que funciona este mundo pequeno e compacto) e que não me pautei por esse critério de laços de amizade. Não nego, porém, que nutro amizade por alguns dos autores presentes no VERBD, não é segredo nenhum. No entanto, parecendo-me que alguns dos comentários apontam nesse sentido, digo que não poderiam ser mais erróneos.
Por outro lado, e aproveitando as palavras de Domingos Isabelinho, o meu objectivo não é o de divulgar a banda desenhada, mas o de construir um discurso crítico muito específico. Como todos os que escrevem sobre banda desenhada ou lêem sobre ela em Portugal sabem, cheguei à relativamente pouco tempo a esta área de discussão pública, em contraste com as pessoas que passaram pelo “Nemo”, pelas edições portuenses da “Quadrado”, das várias revistas, boletins e dossiers existentes. Há pessoas com muito mais experiência e conhecimento do que eu para a divulgar, com uma capacidade de escrever textos cristalinos e capazes de explicitar a razão pela qual uma ou outra banda desenhada merece ser conhecida por um grande público. Outros há, e são a fonte da minha influência, que conduzem por um caminho de verdadeira discussão, que erigem os possíveis meios de análise e crítica da banda desenhada, secundarizando a opinião pessoal e os gostos da maioria, critérios nulos de qualidade. A minha intenção é diferente. Pode ser considerada de muitas formas, “académica”, “elitista”, até mesmo “chata”, mas como todos os restantes construtores de discursos, não desejo impô-lo, apenas discuti-lo.
Logo, tendo em conta esses dois aspectos – não ter sido conduzido por meros elos de amizade e pretender criar um discurso sobre a banda desenhada balizado por uma discussão intelectual consolidada – lancei-me na selecção de alguns autores que me pareciam desenhar um panorama interessante. Alguns critérios foram taxativos: autores que estivessem “no activo”, pondo de lado autores que tenham abandonado a “cena”. Assim, com pena pessoal uma autora como a Ana Cortesão, que prezo acima de tantos outros, ficou “de fora”. Mas por outro lado, devo dizer neste passo que não considero nem a Ana Cortesão nem a Isabel Carvalho nem a Susa Monteiro “autoras de banda desenhada”, como o Lino o aponta, diferenciando-a dos autores homens. Considero-as, a estas, a outras mulheres, e a todos os homens, da mesma forma: autores de banda desenhada. Outros critérios positivos ditaram as sortes. Por exemplo, um dos anónimos indicou que alguns destes autores não tem sequer um álbum publicado... Das duas uma: ou apenas a Susa Monteiro cai nesta “categoria”, ou então entenderei “álbum” como um formato específico herdeiro da tradição dita franco-belga e reduzo a possibilidade de escolha. Se o autor dessas linhas não conhece o trabalho em formato de livros de todos os autores, não é minha responsabilidade. Seja como for, esse também não era um critério. Há autores que nunca fizeram livros e são gigantes da banda desenhada. Apenas um único exemplo: Winsor McKay. A feitura de uma banda desenhada para um formato em livro não é critério nenhum. Ainda gostaríamos de ter perspectivas muito diferentes, o que nos levou a incluir autores mais velhos e com mais experiência, como o Diniz Conefrey, o António Jorge Gonçalves e o Filipe Abranches, a outros mais velhos mas mais recentes, como o José Carlos Fernandes, a outros mais jovens e com trabalhos consolidados, como o David Soares, o Miguel Rocha e o Pedro Nora, uma jovem e um menos jovem recém-chegados à cena, como a Susa Monteiro e o Luís Henriques, e dois autores que já trabalham à algum tempo, têm muita obra publicada um pouco por todo o mundo, mas são estrelas somente em círculos mais restritos, como a Isabel Carvalho e o André Lemos. Como repetidamente afirmei ainda, os critérios jamais foram por exclusão (“este não entra”) mas sim por inclusão e construção de pertinência. O que levou a que determinados autores, excelentes, não entrassem por terem a sua “categoria” já representada, na minha/nossa perspectiva, ocupada pertinentemente.
Por outro lado, pretendíamos criar um panorama a partir da perspectiva de um grupo restrito de autores, lançando à discussão vários temas que fossem considerados, debatidos e pensados por estes autores, e não dar voz a todos (como se isso fosse possível) os autores vivos da banda desenhada portuguesa. O mesmo dirá respeito aos outros intervenientes, com todo o respeito para todos eles. Por exemplo, houve convites que foram feitos mas não puderam ser cumpridos por razões pessoais, houve mesmo entrevistas feitas mas não utilizadas (por razões que se prendem precisamente com limitações de tempo e repetição de discursos). O programa era sobre autores, e não pretendia de modo algum fazer um panorama de todos aqueles que escrevem sobre banda desenhada. Indique-se ainda que o papel da Sara Figueiredo Costa foi bastante activo, ainda que em termos de bastidores. Gostava de deixar aqui esta nota, publicamente. Mas também aqui houve uma selecção, imperativa para a clareza dos discursos que foram feitos.
A proliferação de discursos – através da inclusão de mais autores e possíveis interlocutores - levaria à sua mesma desagregação. As entrevistas a cada autor, por exemplo, levaram a conversas de cerca de uma hora e meia em média. Repare-se, todavia, o “tempo de antena” reservado a cada um desses autores nos programas apresentados. Logo, a multiplicação de intervenientes não é, à partida e sob a fórmula que seguimos, uma boa ideia.
Ainda assim, devo dizer algo mais.
No entanto, há alguma desatenção de alguns dos comentários neste post em relação ao programa, quer do seu instigador quer da parte de alguns respondentes. Talvez pelo estilo do programa arriscar na multiplicação de canais de informação (imagem, som, texto escrito), ou a particularidade da dessincronização (que não têm qualquer problema intrínseco a não ser o gorar as expectativas da ilusão naturalista dos programas de televisão), parece-me que as pessoas não notaram na presença de muitos dos artistas que dizem ter estado ausentes... sob a forma de imagens (sempre com a atribuição dos nomes, salvo um erro apontado no blog) ou de citações, surgem quase todos os nomes citados nos comentários a este post. Por exemplo, a Isabel Lobinho é mesmo reservado um espaço privilegiado (três pranchas) aquando da discussão da revista Visão. Três pranchas, pode parecer que não, mas em televisão, é muito, tendo em consideração o edifício erguido.
Aliás, os dois primeiros episódios tentaram criar uma perspectiva histórica, desde o século XIX até à revista LX Comics, que me parece ter dado entrada a um fazer contemporâneo de banda desenhada em Portugal, que ainda hoje continua. E só alguns autores (cinco, dos onze) acabam por falar das revistas Tintin, Visão e Lx Comics. Os dois seguintes episódios são exclusivamente dedicados aos autores, é certo, mas vogando por territórios tão pessoais (técnicas, obras publicadas) como gerais (perspectivas sociais, partilhas de memória, etc.). E terminámos com um episódio quase totalmente ocupado por quatro ideias sobre o ensino (com os seus directores ou responsáveis maiores, logo não faria sentido multiplicar a sua presença com os restantes professores) e com o nosso discurso de balanço final... Logo, dizer que os autores tiveram uma presença demasiada é, parece-me, erróneo.
Que existem outros autores, e de qualidades indiscutíveis, não é novidade. Mas a exaustão, repito-o, não é um caminho correcto para a assunção de um discurso que se pretende coeso e pertinente sobre a banda desenhada. Como muito bem entendeu João Ramalho Santos, a minha presença e a do Paulo Seabra (por favor, não se esqueçam que este foi um trabalho a dois, de responsabilidades assumidas em conjunto) são sentidas pela própria substância do programa.
Mas há um outro aspecto que desejo tornar claro, se bem que seja sempre impossível esgotar toda a fundamentação desta perspectiva. É que o nosso objectivo não era criar um panorama completo da banda desenhada portuguesa contemporânea, mas muito menos da banda desenhada enquanto objecto de paixões cegas e acriteriosas, mergulhando-se em obras que possam ser muito famosas, conhecidas mas que, a meu ver, são fracas em termos da linguagem, potencialidade e valor da banda desenhada enquanto modo de expressão. Os critérios foram de inclusão, mas algum grau de subjectividade não é de menosprezar (afinal, é dado adquirido do espírito humano) e uma dessas subjectividades é aquilo que entendemos ser a qualidade. A qualidade tem a ver com um determinado fazer, que se pretende adulto, correspondendo ao mundo real, às preocupações sociais do presente, às possibilidades expressivas que o ser humano possui, à capacidade de reinvenção ou alguma proximidade a uma voz autêntica, genuína, pessoal. Assim sendo, não será surpresa que alguns trabalhos derivativos e de banda desenhada comercial, de género, tenha sido preterida em nome de todos estes autores capazes de uma voz pessoal. Algures, alguém indicou que não se tinha dado atenção nenhuma aos mangakas portugueses – autores de mangá portugueses. Pois bem, julgo que a razão disso reside precisamente nessa mesma distinção. São autores de uma banda desenhada cuja tradição não nos pertence, cujas regras de construção são ligeiramente diferentes da banda desenhada europeia e ocidental em geral. Este é um ponto fraco de argumentação, eu sei, pois são autores portugueses a fazer bandas desenhadas em português e em Portugal. Logo, qual a diferença? Mas acima de tudo porque não existe nenhum mangaka português ou portuguesa, pelo menos que eu conheça, capazes de criar uma obra que lhes seja própria, pessoal, não-derivativa. E não se apressem a indicar que é isto devido a um preconceito meu, pessoal, contra a banda desenhada japonesa ou “à japonês”... Passeiem-se um pouco pelo LERBD e verão que tal preconceito pura e simplesmente não existe. Aliás, nenhum preconceito existe nas minhas leituras de bandas desenhadas. Só existem conceitos após a leitura, e a falta de qualidade só é avaliada após a leitura. A razão que me levou à exclusão dos mangakas é a mesma que me levou a não ter dedicado mais tempo a autores como Miguel Montenegro, Eliseu Gouveia, João Lemos, Ricardo Tércio e Daniel Maia... Estou desejoso de ver o livro do João Lemos e gostei muito do traço do Tércio no Spiderman Fairy Tales mas que eu saiba o Homem-Aranha não é candidato à inclusão na “banda desenhada portuguesa”. Possa vir eu a fazer um documentário sobre “autores portugueses a trabalhar para mercados internacionais” e serão eles os nomes centrais!
O desequilíbrio para com os argumentistas é mais pertinente. Saberão alguns que não sigo o mito do “autor completo”, mas por uma questão de clareza, mais uma vez, foram seleccionados antes autores que fossem capazes que criar as suas obras sozinhos (apesar de todos eles terem já trabalhado em colaborações), e sendo a porção visual a mais, perdoe-se o pleonasmo, visível, foi essa a perseguida. Tal como o LERBD se dedica à dimensão do legível e do interpretável, prestando-se a ser um espaço de um discurso mais alongado e de todo o tipo de associações suscitado pela leitura concreta, o VERBD é um espaço de um modo visual debruçando-se sobre outro modo visual... Deseja-se enquanto ponto de equilíbrio entre um instrumento de pedagogia mas também de reflexão, de retrato mas também de crítica.
Por ocasião do 17º Festival da Amadora, em 2006, fui um dos convidados, juntamente com a Sara Figueiredo Costa, a darmos algumas achegas para a exposição dos “17 portugueses”. Também aí se reservou um espaço externo e futuro para os argumentistas, e apresentámos uma lista de cerca de 20 nomes que julgamos pertinente, 20 nomes de pessoas que escrevem mas não desenham banda desenhada. 20 nomes contra os 2 que existiam originalmente. Espero que se venha a concretizar essa ideia, a efectuar essa exposição. Mas num programa de televisão não havia tempo para explorar as histórias em particular. Não o fizemos, com pesar, sobre estes onze autores. Não o fizemos dos brilhantes e bravos argumentistas existentes em Portugal (alguns deles surgiram no programa, mas não nessa qualidade, como bem apontou Geraldes Lino).
No catálogo da Amadora, a propósito dessa exposição citada, a Sara e eu delineámos esta frase: “uma escolha é uma escolha é uma escolha” (imitando Gertrude Stein). De facto, repita-se, até à exaustão: esta foi a nossa escolha, a nossa selecção, a nossa perspectiva. Debater esta escolha com outra escolha é um exercício ligeiramente desprovido de sentido, a não ser apenas uma forma de mostrarmos a nossa capacidade, quando não fomos nós a fazer essa escolha, de a fazer. Todavia, é muito saudável e desejável que esta escolha, ou mais profundamente, que as consequências desta escolha e o discurso que foi possível construir com ela sejam alvo de apreciação crítica, análise, discussão e até mesmo contestação, para que se possa, cada vez mais, construir um discurso verdadeiramente democrático, equilibrado e adulto sobre a banda desenhada.
Aliás, é mesmo nosso desejo que se sigam novas aventuras, investigações e projectos... Porque pensam que terminámos o programa com “Venham Mais Cinco”?
Vosso,
Pedro Moura
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
VERBD no Expresso 2 (pequena recensão de televisão)
domingo, 26 de agosto de 2007
VERBD - O fim e o princípio.
A série pode ter chegado ao fim, mas isso não a impede de continuar a viver.
Em primeiro lugar, gostaria de pedir ou colocar o desafio aos telespectadores que nos acompanharam ou que falharam algum episódio de insistir junto à RTP2 que haja uma repetição do programa ainda este ano, durante o Outono ou Inverno. Basta dirigirem-se a este link e deixar lá algum comentário e pedido: http://www.rtp.pt/wportal/participe/formulario.php
Obrigado.
Estamos neste momento a coordenar algumas "pontas" para poder dar notícias sobre o programa noutras formas (DVD e livro, pelo menos). Mal tenhamos notícias, voltaremos a dá-las aqui.
Obrigado a todos. Aos que se disponibilizaram para as entrevistas, aos que foram incomodados com elas mas acabaram por não se ver incluídos no programa, aos que por várias razões não poderam participar. Aos que nos ajudaram de formas mais visíveis e a outros que nos apoiaram de modo menos imediato, mas cuja importância não é de somenos. Aos que gostaram e aos que gostaram menos, mas viram. Aos que se sentem espicaçados para repensar de uma outra forma a banda desenhada e aos que concordaram com todas as vírgulas. Aos que aprenderam a ficar um pouco mais curiosos pela banda desenhada e aos que sempre a entenderam bem. Aos interessados em geral... Obrigado.
Pedro Moura e Paulo Seabra.
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Crítica ao programa no diário As Beiras. 18 Agosto 2007
João Miguel Lameiras, crítico de banda desenhada de invejável currículo, e um dos entrevistados do VERBD, escreve regularmente uma rubrica sobre e em torno da banda desenhada no diário As Beiras. Fez-nos ele a gentileza de nos enviar o seu texto, que aqui postamos (podendo ser consultado também, como de costume, na secção de "Recortes" da Bedeteca de Lisboa).
Prezamos muito a atenção e a inteligência dada ao programa através deste texto, com críticas pertinentes, a que responderemos atempadamente, aqui mesmo neste post, para um contínuo diálogo com os interessados e como forma de contributo a uma discussão ampla e criativa. Estão todos convidados a se juntarem à mesma.
"VER BD… NA TV
Com excepção de alguma notícia ocasional por ocasião do último filme de Hollywood baseado numa personagem de BD e de efemérides como os cem anos do nascimento de Hergé, a presença da Banda Desenhada nos ecrãs das televisões nacionais é quase nula. Até por isso, o programa “Ver BD”, actualmente em exibição aos domingos às 13 H na RTP 2, com repetição no mesmo dia à 1 H da madrugada, é um acontecimento incontornável que este espaço não podia deixar de assinalar.
Com três dos cinco programas que compõem esta série já exibidos, já é possível fazer um balanço muito positivo deste projecto, que procura dar a descobrir ao público interessado um panorama da Banda Desenhada nacional, com destaque para uma vertente mais autoral, partindo do trabalho de onze autores contemporâneos.
Os onze “magníficos” são, por ordem alfabética: Filipe Abranches; Isabel Carvalho; Diniz Conefrey; José Carlos Fernandes; António Jorge Gonçalves; Luís Henriques; André Lemos; Susa Monteiro; Pedro Nora; Miguel Rocha e David Soares. Uma listagem tão eclética como discutível (como o são inevitavelmente este tipo de listagens…) em que, a par de nomes perfeitamente incontornáveis, face à quantidade e qualidade do seu trabalho, como Miguel Rocha, José Carlos Fernandes, Filipe Abranches, David Soares, ou Diniz Coneferey, surgem outra escolhas bastante mais controversas, como Susa Monteiro, cuja qualidade gráfica é inegável, mas que ainda está muito longe de ter produzido o suficiente para se poder considerar a sua obra como representativa do que quer que seja…
Os dois primeiros programas, transmitidos a 29 de Julho e a 5 de Agosto, respectivamente, traçaram uma breve história da BD portuguesa, do trabalho pioneiro Rafael Bordalo Pinheiro à revista “Tintin”, no primeiro programa, e da revista “Tintin” até à actualidade no segundo, em que é dado destaque às experiências efémeras das revistas “Visão” e “LX Comics”. Contando com depoimentos de especialistas, críticos e autores como fio condutor, este percurso de pouco menos de uma hora pela BD feita em Portugal, estava muito bem feito, pecando por vezes por um excesso de informação, sobretudo quando ao depoimento do especialista se associavam no ecrã imagens do trabalho dos autores de que ele estava a falar, a um texto complementar a correr em rodapé, tornando difícil, para um telespectador que não esteja bem dentro do assunto, assimilar tanta informação simultânea.
Quanto à panorâmica traçada pelos autores do programa, apenas encontrei uma lacuna importante, que é a quase nula referência à importância dos jornais como campo de evolução dos autores portugueses, findo o período áureo das revistas. E se alguns dos onze autores, como José Carlos Fernandes (com a “Agência de Viagens Leming” no Diário de Notícias”) e Diniz Conefrey (que no “Expresso” e no “Blitz”, construiu algumas das mais interessantes experiências gráficas da sua carreira) passaram episodicamente pelos jornais, outros nomes igualmente importantes, mas que estão (quanto a mim, injustamente) ausentes da selecção feita por Pedro Moura, produziram os seus trabalhos mais importantes directamente para as páginas dos jornais. Foi o caso de Fernando Relvas no semanário “Sete”; de Nuno Saraiva, primeiro no “Independente” (com a “Filosofia de Ponta”, a meias com o Júlio Pinto) e mais tarde no “Expresso” e no “Sol”, e da dupla Rui Ricardo Esgar Acelerado no “Blitz” com a série “Superfuzz”.
O terceiro episódio, exibido a 12 de Agosto, foi exclusivamente dedicado aos métodos, técnicas e processos de trabalho dos onze autores, mostrando as diferentes formas de abordagem seguidas por cada um. Uma interessante viagem aos bastidores do processo de criação de cada autor, que privilegia a parte gráfica e estética, colocando em segundo plano o papel do argumentista que, com a excepção de David Soares (que é, acima de tudo, um escritor que também desenha) tem brilhado pela ausência neste “Ver BD”.
Mas, se exceptuarmos estas pequenas reticências, que poderão até vir a ser rebatidas pelos dois programas que ainda falta emitir, este “Ver BD” é uma aposta claramente ganha e um marco em termos da história da Banda Desenhada em Portugal. Um programa inteligente, com grande rigor de pesquisa e algum arrojo estético e narrativo (como a opção de dessincronizar o texto e a imagem nas entrevistas) que esperamos venha um dia a ser recolhido em DVD.
(“Ver BD”, um programa de Pedro Moura, com realização de Paulo Seabra, uma produção Black Maria para a Rtp 2, 5 episódios de 24 minutos, aos domingos, às 13h na RTP 2. Mais informações em http://programaverbd.blogspot.com/)"
João Miguel Lameiras
(brevemente: "respostas")
Prezamos muito a atenção e a inteligência dada ao programa através deste texto, com críticas pertinentes, a que responderemos atempadamente, aqui mesmo neste post, para um contínuo diálogo com os interessados e como forma de contributo a uma discussão ampla e criativa. Estão todos convidados a se juntarem à mesma.
"VER BD… NA TV
Com excepção de alguma notícia ocasional por ocasião do último filme de Hollywood baseado numa personagem de BD e de efemérides como os cem anos do nascimento de Hergé, a presença da Banda Desenhada nos ecrãs das televisões nacionais é quase nula. Até por isso, o programa “Ver BD”, actualmente em exibição aos domingos às 13 H na RTP 2, com repetição no mesmo dia à 1 H da madrugada, é um acontecimento incontornável que este espaço não podia deixar de assinalar.
Com três dos cinco programas que compõem esta série já exibidos, já é possível fazer um balanço muito positivo deste projecto, que procura dar a descobrir ao público interessado um panorama da Banda Desenhada nacional, com destaque para uma vertente mais autoral, partindo do trabalho de onze autores contemporâneos.
Os onze “magníficos” são, por ordem alfabética: Filipe Abranches; Isabel Carvalho; Diniz Conefrey; José Carlos Fernandes; António Jorge Gonçalves; Luís Henriques; André Lemos; Susa Monteiro; Pedro Nora; Miguel Rocha e David Soares. Uma listagem tão eclética como discutível (como o são inevitavelmente este tipo de listagens…) em que, a par de nomes perfeitamente incontornáveis, face à quantidade e qualidade do seu trabalho, como Miguel Rocha, José Carlos Fernandes, Filipe Abranches, David Soares, ou Diniz Coneferey, surgem outra escolhas bastante mais controversas, como Susa Monteiro, cuja qualidade gráfica é inegável, mas que ainda está muito longe de ter produzido o suficiente para se poder considerar a sua obra como representativa do que quer que seja…
Os dois primeiros programas, transmitidos a 29 de Julho e a 5 de Agosto, respectivamente, traçaram uma breve história da BD portuguesa, do trabalho pioneiro Rafael Bordalo Pinheiro à revista “Tintin”, no primeiro programa, e da revista “Tintin” até à actualidade no segundo, em que é dado destaque às experiências efémeras das revistas “Visão” e “LX Comics”. Contando com depoimentos de especialistas, críticos e autores como fio condutor, este percurso de pouco menos de uma hora pela BD feita em Portugal, estava muito bem feito, pecando por vezes por um excesso de informação, sobretudo quando ao depoimento do especialista se associavam no ecrã imagens do trabalho dos autores de que ele estava a falar, a um texto complementar a correr em rodapé, tornando difícil, para um telespectador que não esteja bem dentro do assunto, assimilar tanta informação simultânea.
Quanto à panorâmica traçada pelos autores do programa, apenas encontrei uma lacuna importante, que é a quase nula referência à importância dos jornais como campo de evolução dos autores portugueses, findo o período áureo das revistas. E se alguns dos onze autores, como José Carlos Fernandes (com a “Agência de Viagens Leming” no Diário de Notícias”) e Diniz Conefrey (que no “Expresso” e no “Blitz”, construiu algumas das mais interessantes experiências gráficas da sua carreira) passaram episodicamente pelos jornais, outros nomes igualmente importantes, mas que estão (quanto a mim, injustamente) ausentes da selecção feita por Pedro Moura, produziram os seus trabalhos mais importantes directamente para as páginas dos jornais. Foi o caso de Fernando Relvas no semanário “Sete”; de Nuno Saraiva, primeiro no “Independente” (com a “Filosofia de Ponta”, a meias com o Júlio Pinto) e mais tarde no “Expresso” e no “Sol”, e da dupla Rui Ricardo Esgar Acelerado no “Blitz” com a série “Superfuzz”.
O terceiro episódio, exibido a 12 de Agosto, foi exclusivamente dedicado aos métodos, técnicas e processos de trabalho dos onze autores, mostrando as diferentes formas de abordagem seguidas por cada um. Uma interessante viagem aos bastidores do processo de criação de cada autor, que privilegia a parte gráfica e estética, colocando em segundo plano o papel do argumentista que, com a excepção de David Soares (que é, acima de tudo, um escritor que também desenha) tem brilhado pela ausência neste “Ver BD”.
Mas, se exceptuarmos estas pequenas reticências, que poderão até vir a ser rebatidas pelos dois programas que ainda falta emitir, este “Ver BD” é uma aposta claramente ganha e um marco em termos da história da Banda Desenhada em Portugal. Um programa inteligente, com grande rigor de pesquisa e algum arrojo estético e narrativo (como a opção de dessincronizar o texto e a imagem nas entrevistas) que esperamos venha um dia a ser recolhido em DVD.
(“Ver BD”, um programa de Pedro Moura, com realização de Paulo Seabra, uma produção Black Maria para a Rtp 2, 5 episódios de 24 minutos, aos domingos, às 13h na RTP 2. Mais informações em http://programaverbd.blogspot.com/)"
João Miguel Lameiras
(brevemente: "respostas")
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
VERBD: 5º EPISÓDIO: 26 Agosto 2007, RTP2 - 14h30
A pedra de fecho do VERBD é ainda uma obra em construção...
O quinto e último episódio do programa VERBD abre com alguns apontamentos, pelas intervenções de João Paulo Cotrim e Leonardo De Sá, sobre a memória que se cultiva em Portugal, sobretudo aquela que diz respeito à continuidade e andamento da banda desenhada.
Uma das formas de contributo para essa memória é o esforço do próprio programa, claro está. Uma outra é a via do ensino, que não só passa conhecimentos do fazer como do sabr que compõem esta área expressiva e criativa. Assim sendo, apresentam-se quatro das experiências de ensino da banda desenhada mais consolidadas do país:
Marcos Farrajota explicita o trabalho que tem desenvolvido em mais de dez anos em variadíssimos workshops que tem organizado, ou onde outros convites o levam. Têm sido dirigidos a pessoas de todas as idades, quer desde crianças de tenra idade a adultos que nunca o experimentaram, e com uma vocação particular para primeiras experiências, e naproximações pedagógicas divertidas. Mais informações, aqui.
José Pedro Cavalheiro tem sido o mentor principal dos cursos ministrados na Fundação Calouste Gulbenkian (CITEN) que recentemente se "mudaram" para a FBAUL (passando a chamar-se CIEAM). Há aqui um manancial reunido de grande conhecimento, quer em termos técnicos, artísticos e expressivos, como de uma grande preocupação pedagógica aberta e sensível ao desenvolvimento das aptidões pessoais. Mais dirigido a quem tem algum domínio no desenho (ou outras disciplinas análogas), despertam-se aqui muitas das especificidades da banda desenhada. É desses cursos e os seus propósitos que Zepe fala.
O Ar.Co é uma das escolas artísticas mais respeitadas em Lisboa, e tem um curso de banda desenhada e ilustração também pautado pela excelência da instituição. Os vários intervenientes, todos agentes e activos nessa cena de uma grande qualidade, conseguem fazer com que os discentes desenvolvam as suas capacidades com uma grande atenção para com as possibilidades reais de trabalho no "mercado" existente. É Jorge Nesbitt o seu director.
Mais recentemente, no ano lectivo de 2006-2007, a Escola Superior Artística do Porto - extensão de Guimarães, estreou a primeira licenciatura em banda desenhada e ilustração em Portugal. Contando com uma sólida distribuição de unidades curriculares em torno dos aspectos mais importantes destas áreas quer de um ponto de vista pragmático quer de uma perspectiva mais teórica, é seu objectivo contribuir para uma nova geração informada e especificamente dedicada à criação de banda desenhada. Isabel Carvalho, aqui na qualidade de directora desse mesmo curso, fala-nos aqui desse desafio.
Todos estes cursos, uns mais longos que outros, outros mais novos que outros, todos diferentes nas qualidades entre si mas igualando nos seus níveis, produziram muitas publicações, de fanzines a álbuns, livros de exercícios e sites, etc. Mostramos, saindo das malas e mochilas escolares, algumas dessas experiências.
X-X-X-X
Como não poderia deixar de ser, reservamo-nos ao direito de, neste último episódio, tecermos algumas conclusões e apontamentos sobre o objecto que aqui nos trouxe e sobre o programa em si.
Uma das formas de contributo para essa memória é o esforço do próprio programa, claro está. Uma outra é a via do ensino, que não só passa conhecimentos do fazer como do sabr que compõem esta área expressiva e criativa. Assim sendo, apresentam-se quatro das experiências de ensino da banda desenhada mais consolidadas do país:
Marcos Farrajota explicita o trabalho que tem desenvolvido em mais de dez anos em variadíssimos workshops que tem organizado, ou onde outros convites o levam. Têm sido dirigidos a pessoas de todas as idades, quer desde crianças de tenra idade a adultos que nunca o experimentaram, e com uma vocação particular para primeiras experiências, e naproximações pedagógicas divertidas. Mais informações, aqui.
José Pedro Cavalheiro tem sido o mentor principal dos cursos ministrados na Fundação Calouste Gulbenkian (CITEN) que recentemente se "mudaram" para a FBAUL (passando a chamar-se CIEAM). Há aqui um manancial reunido de grande conhecimento, quer em termos técnicos, artísticos e expressivos, como de uma grande preocupação pedagógica aberta e sensível ao desenvolvimento das aptidões pessoais. Mais dirigido a quem tem algum domínio no desenho (ou outras disciplinas análogas), despertam-se aqui muitas das especificidades da banda desenhada. É desses cursos e os seus propósitos que Zepe fala.
O Ar.Co é uma das escolas artísticas mais respeitadas em Lisboa, e tem um curso de banda desenhada e ilustração também pautado pela excelência da instituição. Os vários intervenientes, todos agentes e activos nessa cena de uma grande qualidade, conseguem fazer com que os discentes desenvolvam as suas capacidades com uma grande atenção para com as possibilidades reais de trabalho no "mercado" existente. É Jorge Nesbitt o seu director.
Mais recentemente, no ano lectivo de 2006-2007, a Escola Superior Artística do Porto - extensão de Guimarães, estreou a primeira licenciatura em banda desenhada e ilustração em Portugal. Contando com uma sólida distribuição de unidades curriculares em torno dos aspectos mais importantes destas áreas quer de um ponto de vista pragmático quer de uma perspectiva mais teórica, é seu objectivo contribuir para uma nova geração informada e especificamente dedicada à criação de banda desenhada. Isabel Carvalho, aqui na qualidade de directora desse mesmo curso, fala-nos aqui desse desafio.
Todos estes cursos, uns mais longos que outros, outros mais novos que outros, todos diferentes nas qualidades entre si mas igualando nos seus níveis, produziram muitas publicações, de fanzines a álbuns, livros de exercícios e sites, etc. Mostramos, saindo das malas e mochilas escolares, algumas dessas experiências.
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Como não poderia deixar de ser, reservamo-nos ao direito de, neste último episódio, tecermos algumas conclusões e apontamentos sobre o objecto que aqui nos trouxe e sobre o programa em si.
Em "Discurso do Método" explicamos o que se obteve com este programa televisivo, que julgamos de uma importante carga pedagógica junto do grande público, e ainda o facto, que não deve deixar de ser sempr sublinhado, que este panorama ou perspectiva que se criou é uma das muitas que poderiam ter sido criadas. Parece-nos que esta era a que mais se adequava aos nossos propósitos, de equilíbrio, dignidade e honestidade intelectual para com a banda desenhada contemporãnea (e não só) portuguesa. Esperemos que surjam outras, pois só no diálogo é que uma arte de fortalece. Em "Post-Scriptum", revelamos algumas das "pontas" que não foram possíveis desenvolver nos programas, pelas óbvias limitações do formato em si.
Existem em projecto, quem sabe terão vida pública...
Nota: repete à 1h00 do dia seguinte (Segunda, 27). O episódio passou nos primeiros minutos num formato "esborrachado", e o cartão publicitário da livraria Dr. Kartoon foi cortado (tal como parte do da cafetaria do Chiado). Esses problemas técnicos são da inteira responsabilidade da RTP2. As nossas desculpas pelos mesmos.
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