domingo, 29 de julho de 2007

Nota sobre o primeiro episódio.

Informam-se os interessados que o primeiro episódio do VERBD foi transmitido no dia 29 de Julho com um ratio ligeiramente esticado, o que explica a qualidade das imagens mostradas. Esse pequeno desvio técnico é da responsabilidade da RTP2.

terça-feira, 24 de julho de 2007

VERBD: 1º EPISÓDIO: 29 Julho 2007, RTP2 - 13h30


É sob o signo de Raphael Bordallo Pinheiro que o primeiro episódio de VERBD vai para o ar, logo depois da barrigada de almoço e dos The Simpsons na RTP2, no Domingo dia 29 de Julho de 2007. Repete à 1h30 da manhã do dia seguinte.
Este primeiro episódio, depois de uma breve apresentação dos "onze autores" e uma espécie de introdução ao objecto cultural não-identificado da banda desenhada, lançar-se-á numa perspectiva sobre a história da banda desenhada em Portugal, começando pelos meados do século XIX e indo até à revista Tintin, passando por outros cantos e perguntas e surpresas.
Seguem-se os outros nos próximos Domingos deste Verão...

quarta-feira, 18 de julho de 2007

VERBD1: genérico de entrada

Os autores: Introdução

Como foi dito, a selecção dos autores não foi feita num processo de "exclusão", mas antes de procurar, com esta escolha parcial, ser-se pertinente para um retrato da banda desenhada contemporânea portuguesa. Todavia, esta "lista" revela uma banda desenhada criada com preocupações criativas específicas. Todos estes são autores que pretendem, através dos seus instrumentos, estratégias e abordagens muito diversas, através dos seus caminhos diferenciados, chegar a uma ideia desenvolta da arte da banda desenhada, enquanto modo de expressão adulto, inteligente, e afastado da esmagadora maioria da produção, que antes cabe num dos ramos da indústria de entretenimento.
Portugal, tal como em muitas outras áreas criativas, não tem qualquer razão para se sentir embaraçado com os seus autores de banda desenhada contemporâneos, cuja qualidade estética e intelectual está a par da criação a nível internacional.
O VERBD atravessa sobretudo estes onze autores enquanto interlocutores para os temas discutidos, mas vai bem mais além deles, para chegar a um retrato o mais amplo possível neste espaço de diculgação televisivo. Esperemos que o VERBD mostre no país um conjunto de artistas e de trabalhos que merece toda a atenção e apoio do grande público português e que possa servir de um primeiro passo para um conhecimento maior desta área criativa aos que nela se iniciam, e uma ilustração equilibrada para aqueles que já a conhecem.

Os autores: Filipe Abranches


Filipe Abranches publicou quatro histórias na revista LX Comics. Se formos confrontados com esses quatro trabalhos mas sem essa informação, ficaríamos surpreendidos terem sido criadas pela mesma mão. Na verdade, o único elemento em comum é de facto o nome do autor. Essa capacidade "camaleónica" (um frase empregue repetidas vezes) seria e é a característica maior que pauta os trabalhos de Filipe Abranches, que se apresentam desde as histórias mais curtas a livros maiores, ora portentosos como a História de Lisboa (com o recentemente falecido historiador Oliveira Marques) ora de uma estranha e fantasmagórica intimidade, como a adaptação de uma novela de Raul Brandão, O Diário de K.
Paulatinamente, o seu estilo geral - ao mesmo tempo que atravessa toda a espécie de experiências gráficas, de figuração, de cor, de fôlego, de ambiente - desenvolveu-se numa direcção cada vez mais livre, impressionista, até mesmo desagregada, o que revela uma procura por um maior balanço pela veia autoral, em detrimento de uma aproximação ao grande público, habituado à banda desenhada como "meio escapista" ou "entretenimento". Filipe Abranches, com a sua obra, tem contribuido para que a banda desenhada portuguesa seja mais madura, forte em termos estéticos, e capaz de dialogar com quaisquer outras áreas de criação (haja vontade) ou produções internacionais.

Os autores: Isabel Carvalho


Isabel Carvalho começou com pequenos projectos em A Língua e Satélite Internacional. Tal como no caso de André Lemos, e apesar de ter uma das obras em banda desenhada mais internacionalizadas do país, continua, de certa forma, "abaixo do radar".
O seu trabalho explora sobretudo os lados negros da existência humana, da solidão ao abandono, da falta de amor aos imperativos que a sociedade exerce sobre o corpo e o comportamento de cada um de nós. Mesmo quando aparentemente Isabel Carvalho cria representações do que parecem ser aspectos positivos - a infância, a brincadeira, o amor, a sexualidade -, e como já escrevera antes, "é como se se tratasse de um mundo feito de açúcar, brilhante e doce para melhor esconder a cárie podre por baixo. Os seus desenhos aparentam também uma facilidade no fazer, falsamente imputados a um imginário "feminino", mas que na realidade revelam uma capacidade pouco comum em equilibrar os momentos em que se deve "dizer muito", quase de um modo brroco até, e os em que importa antes "dizer pouco".
Desenvolvendo uma carreira profissional enquanto artista visual e professora, o seu trabalho em banda desenhada também testemunha as contínuas discussões entre os vários pólos que constituem esses espectros criativos: comunicação versus expressão, figuração versus abstracção, narrativismo versus experimentalismo...

Os autores: Diniz Conefrey


Diniz Conefrey é, desta selecção, o autor que trabalha há mais tempo e, igualmente, com uma profusa obra, ainda que sobretudo composta por trabalhos curtos e médios nas mais variadíssimas publicações, desde a LX Comics ao Expresso. Mais recentemente, porém, publicou Arquipélagos, onde faz uma interessantíssima ligação de textos de Herberto Helder à banda desenhada, e o primeiro volume (Cochquixtia: O Despertar) de um imenso projecto intitulado Tonalamatl, O Livro dos dias, e que pretende mostrar a vida de um artista mexica, ou azteca, na sua cultura e mundo e o seu encontro com o homem branco.
Tendo vivido e experimentado muitas das tecnologias de criação e impressão das últimas décadas, Conefrey experimentou toda uma série de técnicas, de um modo pertinente e em perfeita simbiose com a narrativa pretendida. Curiosamente, essa larga e variada experiência nessas tecnologias "avançadas" levou-o a dedicar-se, pelo contrário, a um modo de criação artesanal: pode-se dizer, sem vergonhas e com toda a propriedade, que Conefrey é um virtuoso. É já uma constante afirmar a incomparabilidade das cores no seu trabalho: onde ela existe usualmente apenas para sublinhar um qualquer baixo grau de realismo ou de imperativos editoriais, ela assume em Conefrey um protagonismo verdadeiro e passa a ocupar um território central.

Os autores: José Carlos Fernandes


Talvez se possa afirmar sem dúvidas que é José Carlos Fernandes o mais famoso autor de banda desenhada portuguesa da actualidade. A sua imensa obra, que se espraia por toda uma série de livros, trabalhos curtos em várias publicações, tiras para jornais, trabalho de ilustração, tem já uma fortíssima presença no capítulo desta arte no imaginário português.
A esmagadora maioria da sua criação constrói histórias que se multiplicam em espaços, tempos, temas, personagens, estratégias de criação, mas onde podemos dizer que há um elemento que assume um grau de protagonismo maior: o absurdo. Desde a Pior Banda do Mundo ao Barão Wrangel, é como se todas essas personagens fossem aspectos de um mesmo prisma, que no fundo, terá uma forte ligação com a realidade portuguesa (transfigurada pela sua ficção).
A sua capacidade de criar narrativas chegou mesmo ao ponto de deixar "sementes" na forma de Black Box Stories, cujo primeiro volume foi desenhado por Luís Henriques, mas que serão seguidos por muitos outros seguramente. Mas para além desta aproximação pela narrativa, Fernandes tem também experiências menos usuais, como A Última Obra-prima de Aaron Slobodj.

Os autores: António Jorge Gonçalves


António Jorge Gonçalves é um dos autores mais conhecidos do público português. Com Nuno Artur Silva, lançou um dos álbuns mais frescos da banda desenhada moderna no nosso país, Ana, que seria o primeiro tomo de uma trilogia do detective Filipe Seems. Outros títulos se seguiriam, como O Senhor Abílio, que demonstra como é possível transformar uma obra de encomenda comercial numa aventura gráfica com toda a liberdade e sem par, e A Arte Suprema, com Rui Zink, uma das obras de maior fôlego dos últimos tempos.
Aos poucos e de uma forma natural, António Jorge Gonçalves tem integrado as suas experiências teatrais no seu trabalho e procurado criar uma outra forma de trabalhar a banda desenhada e as áreas contíguas, como no seu projecto Subway Life. É também um dos autores mais atentos para com as especificidades da banda desenhada, em termos discursivos, e já revelou em várias ocasiões ter uma capacidade comunicativa franca e que o torna um agente importante para discussões sobre esta arte de uma forma aberta, adulta e dialogante.

Os autores: Luís Henriques


Luís Henriques é um dos outros autores que "acabaram de chegar". Até à data, publicaram-se dois livros: o primeiro volume das Black Box Stories de José Carlos Fernandes e Babinski, uma adaptação de José Feitor da obra de Meyrink. Ambos são marcos imediatos e revelaram num repente um artista cuja desenvoltura não pode deixar de ser uma surpresa agradável e um contributo à força da banda desenhada portuguesa.
Conhecedor e capaz de vogar as várias disciplinas do desenho, cada uma das histórias apresentadas parecem dizer respeito a uma personalidade diferente, não por uma fragmentação da pessoa e das capacidades de Luís Henriques, mas precisamente por este ser capaz de dar corpos e figuras diferenciadas às várias matérias pretendidas pelas narrativas.

Os autores: André Lemos


André Lemos faz parte dos artistas que estão "abaixo do radar". Uma vez que a esmagadora da atenção normalizada pela banda desenhada se reduz ao que surge em forma de livro, como se este fosse o único veículo digno para ela, perde-se muito em termos de diversidade e excelência estética. Lemos tem uma obra profícua e muito significativa, sendo a esmagadora maioria das suas bandas desenhadas publicadas em fanzines, publicações independentes, muitas das quais das melhores editoras europeias, e outros objectos não-identificados. No entanto, a Bedeteca editou, na sua colecção "Lx Comics" o livro Quem é este homem?
Não houve momento significativo na vanguarda da banda desenhada portuguesa nos últimos 20 anos em que André Lemos não estivesse presente. Não sendo o seu interesse a criação propriamente de "histórias", Lemos é um dos autores cuja aproximação plástica à banda desenhada assume essa mesma natureza: a plástica, e esse é um contributo que lhe é específico e quase único.

Os autores: Susa Monteiro


A Susa Monteiro cabe como uma luva a expressão "chegou e venceu". Tendo publicado toda uma série de relatos curtos em várias publicações - entre as quais, Nemo no Século XXI, Venham Mais Cinco, e na galega Barsowia - conquistou de imediato um conjunto de leitores e fãs, e promete-se a edição de um volume das Black Box Stories, escritas por José Carlos Fernandes, totalmente ilustrado pela artista.
Cultora de um imaginário onírico, Susa Monteiro faz convergir de um modo curioso uma figuração que remete às tradições do "grotesco", mas para reenviar a uma exploração dos aspectos mais emotivos e poéticos da existência do ser humano. Susa Monteiro não é uma "promessa" nem uma "esperança" da banda desenhada portuguesa: é já um cumprimento de uma personalidade autoral vincada desta arte.

Os autores: Pedro Nora


Tendo começado de uma forma fulgurante e experimental nos zines A Língua e depois Satélite Internacional, Pedro Nora tem editado histórias mais ou menos curtas de um modo regular, ainda que espaçado, e onde tem sublimado o seu trabalho para uma cada vez maior "calma gráfica". Do espaço dessas primeiras experiências, de um brilhantismo técnico jamais visto em Portugal, e no qual se incluirá Mr. Burroughs, escrito por David Soares, a trabalhos de colaboração para um público mais alargado, como as experiências em torno do jazz com João Paulo Cotrim, Nora tem sulcado um dos traços mais belos na história contemporânea da banda desenhada portuguesa. E prometem-se novas surpresas para um futuro próximo...

Os autores: Miguel Rocha


Apesar de Miguel Rocha ter "surgido na cena" tardiamente na sua vida, rapidamente se estabeleceu como um dos mais profícuos e dedicados autores desta área criativa. Livros tais como A Vida Numa Colher, Março (com Alex Gozblau), Eduarda (a partir de Georges Bataille) e Salazar. Agora, na hora da sua morte (com João Paulo Cotrim) são livros fundamentais para compreender a produção da banda desenhada contemporânea em Portugal e sobretudo entender que ela se constitui sobretudo de um modo adulto e inteligente. Rocha é também um virtuoso em termos técnicos e cada um dos livros revela a sua capacidade de se reinventar do modo mais adequado e equilibrado em relação ao programa narrativo da obra em questão.

Os autores: David Soares


David Soares é talvez um dos autores portugueses contemporâneos que mais longe levaram a aproximação da banda desenhada pela parte da escrita. O que não é de surpreender, tendo em conta a sua carreira enquanto autor literário e ensaísta, tendo publicado um dos livros mais interessantes sobre banda desenhada alguma vez publicados em Portugal. Autor de Mr. Burroughs com Pedro Nora e de Sammahel e A Última Grande Sala de Cinema desenhados por ele mesmo, David Soares cultiva um estilo muito próprio do género do horror, onde o abjecto e os limites do humano servem para desvendar os resquícios da moralidade que existem em qualquer situação, apesar de tudo...

VERBD: Introdução


Da autoria de Pedro Moura (do blog de crítica de banda desenhada LERBD), e realização de Paulo Seabra, VERBD é uma produção externa da Black Maria para a RTP2. São 5 episódios de 25 minutos cada, e irão para o ar durante o fim de Julho e o mês de Agosto.
VERBD desenhará um panorama geral da banda desenhada portuguesa, com uma especial atenção para a produção contemporânea. Entrevistaram-se onze autores que estão a desenvolver os seus projectos e têm publicado trabalhos de uma qualidade excelente. Por ordem alfabética, são eles Filipe Abranches, Isabel Carvalho, Diniz Conefrey, João Carlos Fernandes, António José Gonçalves, Luís Henriques, André Lemos, Susa Monteiro, Pedro Nora, Miguel Rocha e David Soares. Esta lista inclui desde nomes já famosos e com um longo trabalho a outros mais jovens e “acabados de chegar”. Mais do que se ser exaustivo, pretende-se que esta selecção, apesar de necessariamente parcial, seja pertinente e significativa.
Para além dos autores, entrevistaram-se especialistas da matéria - críticos, historiadores, editores, professores: João Paiva Bóleo, José Pedro Cavalheiro, João Paulo Cotrim, António Dias de Deus, Marcos Farrajota, João Miguel Lameiras, Geraldes Lino, Domingos Isabelinho, Dinis Machado, Jorge Nesbitt e Leonardo De Sá.

Cada episódio está organizado segundo linhas temáticas, apresentando como se editam os trabalhos, as técnicas seguidas pelos vários autores, as relações estabelecidas com o público em geral, o modo como se transmitem as experiências havidas ao longo do tempo e mesmo indo a questões mais profundas sobre a banda desenhada enquanto modo de expressão.
Seguindo uma estrutura dinâmica, servida de muitas imagens, uma profusão de informações, este programa é feito num equilíbrio feliz para que possa agradar aos que já são leitores de banda desenhada, de longa ou curta data, àqueles que ainda não descobriram esta arte.
Um dos aspectos singulares do VERBD é não possuir um único momento sincronizado entre a imagem e o som. As especificidades da banda desenhada informaram a feitura do programa,
as opções estruturais e estéticas tomadas, as quais remetem sempre para o seu objecto. Essa aproximação efectiva entre o objecto discutido e as formas audiovisuais televisivas levam a que este programa apresente facetas de grande criatividade e raramente vistas na televisão portuguesa.